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O plano do Japão para estimular casais a terem mais filhos 



O plano do Japão para estimular casais a terem mais filhos 

06/03/2023




Pela primeira vez em mais de um século, número de bebês nascidos no Japão ficou abaixo de 800 mil, segundo estimativas oficiais. Na década de 1970, esse número passava de 2 milhões.

 

 

 

É "agora ou nunca", alertou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, se referindo à queda acentuada da fecundidade no país.

 

Ele afirmou há algumas semanas que o Japão está prestes a não conseguir funcionar como sociedade devido à baixa histórica na taxa de natalidade.

 

"Focar a atenção em políticas relacionadas às crianças e ao cuidado infantil é uma questão que não pode esperar ou ser adiada", declarou Kishida, acrescentando que está é uma das questões mais urgentes da agenda do país neste ano.

 

Embora a queda na taxa de natalidade seja um fenômeno bastante difundido nos países desenvolvidos, o problema é mais grave no Japão, dado que a expectativa de vida aumentou nas últimas décadas, o que significa que há um número cada vez maior de idosos e cada vez menos trabalhadores para sustentá-los.

 

Na verdade, o Japão é o país com a população mais idosa do mundo, depois de Mônaco, segundo dados do Banco Mundial.

 

É muito difícil para qualquer país sustentar sua economia quando uma parte significativa da população se aposenta, os serviços de saúde e o sistema previdenciário são sobrecarregados ao máximo, e o número de pessoas em idade ativa diminui.

 


Causas da crise demográfica


O premiê Fumio Kishida anunciou que vai dobrar gastos do governo para promover a natalidade Isso significa que os gastos do governo aumentariam para cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

 

No entanto, outros governos japoneses já tentaram promover estratégias semelhantes, sem obter os resultados esperados.

 

Atualmente, a média de filhos de uma mulher japonesa é de 1,3, uma das taxas mais baixas do mundo (a Coreia do Sul tem a menor, 0,78).

 

São muitas as causas desta crise demográfica. Algumas são comuns em países desenvolvidos e outras são típicas da cultura japonesa. Entre elas, estão:

 

- Desigualdades de gênero no trabalho doméstico e na criação dos filhos;

- Pequenos apartamentos nas grandes cidades que não oferecem espaço para uma família extensa;

- Alto custo e forte pressão para que as crianças frequentem as melhores escolas e universidades;

- Aumento do custo de vida;

- Maior participação de mulheres no mercado de trabalho;

- Alta demanda de trabalho e pouco tempo para se dedicar à criação dos filhos;

- Mulheres jovens mais instruídas que preferem permanecer solteiras e não ter filhos;

- Mulheres que decidem adiar a gravidez até uma idade mais avançada, reduzindo o número de anos férteis.


Cultura do trabalho punitivo 

 

"No Japão existe uma cultura de trabalho punitiva que exige longas jornadas de trabalho, alto nível de comprometimento e alto desempenho dos funcionários", deixando pouco espaço para ter filhos.

 

"Está claro que o apoio monetário às famílias pode resolver apenas parcialmente as razões por trás da baixíssima fecundidade no país", acrescenta.

 

Além disso, as medidas financeiras típicas, segundo Sobotka, não são suficientes para compensar significativamente o alto custo de ter filhos.

 

Dinheiro e outras mudanças


O plano do premiê Kishida é dobrar os gastos públicos em programas dedicados a apoiar a criação de filhos.

 

Mas alguns analistas, como Poh Lin Tan, acadêmica da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, argumentam que, em outros países asiáticos, aumentar os gastos fiscais para estimular a natalidade não funcionou.


Especialistas apontam ser necessárias mudanças que não dependam de incentivos monetários.


Em Cingapura, o governo luta contra a tendência implacável de queda na fecundidade desde os anos 1980.

 

Em 2001, introduziu um pacote de incentivos econômicos para aumentar a taxa de natalidade.

 

Atualmente, diz Poh, o pacote inclui licença-maternidade remunerada, subsídios para creches, isenções e abatimentos fiscais, bônus financeiro e subsídios para empresas que implementam contratos de trabalho flexíveis.

 

"Apesar desses esforços, a taxa de fecundidade continuou caindo", afirma a especialista.

 

E, assim como vem diminuindo no Japão e em Cingapura, também está caindo na Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e cidades chinesas de alta renda como Xangai.

 

Uma política melhor, argumenta a acadêmico, seria ajudar os casais que desejam ter pelo menos dois filhos a atingir suas metas de fecundidade, em vez de persuadir aqueles que não estão convencidos e encorajar a gravidez em mulheres mais jovens.

 

Stuart Gietel-Basten, professor de Ciências Sociais da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e da Universidade Khalifa, em Dubai, concorda.

 

Para aumentar realmente a taxa de fecundidade, ele explica, é preciso apoiar quem já pretendia ter um filho a ter dois.

 

"A razão pela qual as políticas para aumentar a fecundidade não têm funcionado é porque elas não abordam as razões fundamentais", como empregos instáveis, papéis de gênero desiguais dentro de casa, discriminação no ambiente de trabalho e alto custo de vida.

 

Nesse sentido, "a baixa fecundidade é um sintoma de outros problemas".

 


Uma sociedade presa ao passado

 

Melhorar as condições de vida das pessoas é essencial para incentivar as taxas de natalidade, diz Tomas Sobotka.

 

São medidas como maior flexibilidade no trabalho, creches públicas de boa qualidade, licenças maternidade e paternidade bem remuneradas ou moradia a preços acessíveis.

 

Mas nem mesmo tudo isso, ele adverte, é suficiente para aumentar significativamente as taxas de natalidade no Japão.

 

O que o país precisa é de uma transformação ainda mais profunda, porque "as normas e expectativas familiares e de gênero da sociedade permanecem arraigadas ao passado".

 

Muitas vezes, ele explica, "as mães continuam a ser vistas como as únicas responsáveis por cuidar da família, pelos afazeres domésticos, pelo bem-estar, educação e sucesso escolar dos filhos".

 

 

Com informação da BBC News

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